Discóbolo de Mirón

Discóbolo de Mirón
Símbolo da Educação Física

Desaparecidos

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sábado, 26 de dezembro de 2009

Contradições da sociedade urbana: a praga da anilha

Sabe-se que atualmente é crescente a busca do cidadão urbano pelo corpo perfeito. As encarregadas de receberem essas pessoas são as academias. Alguns as procuram não só por estética, mas por qualidade de vida, treinamento de alto desempenho, alívio do estresse, etc. O personagem fundamental da academia é o professor de educação física. O professor analisado aqui é especificamente o que atua nas salas de musculação.

Nessa sociedade moderna comandada pelo sistema capitalista de produção, a rotina diária de uma pessoa habitante de um grande centro urbano tem em seu dia cada vez mais elementos que a levam ao sedentarismo. Os automóveis são cada vez mais velozes e confortáveis. Os ambientes nos locais com grande concentração de cimento se sustentam com ar condicionado. A tecnologia de modo geral colabora com a agilidade da vida urbana. O homem atual não precisa mais caçar, pescar, nadar, escalar, lutar e se movimentar de modo geral para sobreviver, mas sua rotina diária de trabalho é estafante. Se transporta sem qualidade e a pobreza de movimentos durante a rotina diária é grande. Tudo (ou quase tudo) é a base da troca. Troca por moeda, por dinheiro, troca que gera lucro e que sustenta o sistema. Aí é que entram as academias. O homem se abdicando da obrigação de fazer tais movimentos e sabendo que sua estrutura física foi feita para se movimentar regularmente, tenta uma forma de simular tais movimentos nas academias de ginástica.

Pois bem, a questão principal a ser analisada é como esse homem se relaciona com seu “orientador” dentro da sala de musculação ou outra dentro da academia. Sabe-se que um dos grandes inconvenientes do professor de musculação em seu ambiente de trabalho é a desorganização. Em pouco tempo, com uma sala cheia o ambiente se torna caótico e desorganizado. Aí é que vem o problema. O professor é solicitado a todo o momento para ajudar a desmontar alguns aparelhos que foram utilizados pelos próprios alunos cujos mesmos deixaram para o próximo uma carga muitas vezes colossal e injusta para o pobre professor que trabalha muito, em pé e já carrega esses pesos há algum tempo durante sua vida. Mas de quem é a culpa? Do aluno? Do professor? Se essa resposta fosse sabida seria mais fácil encontrar a solução.

O fato é que o professor não está isento dessa responsabilidade, na medida em que ele ou outro de sua categoria orientou aquele aluno (parte-se do princípio que todos os alunos foram principiantes uma vez) no início de seu treinamento não deixou claro que cada material utilizado deveria ser guardado no seu devido lugar, apesar de ser bastante óbvio que isso não acontece somente nas academias. O homem joga lixo no chão, reclama das enchentes depois e afirma que é obrigação do funcionário da limpeza urbana recolhê-lo, já que a função dele é essa. Grande erro. O funcionário deve cuidar da limpeza urbana, mas é dever do cidadão zelar pela sua sociedade, seu bairro, sua rua, etc. Da mesma forma, o professor não tem como função guardar as anilhas que os alunos por simples comodismo não o fazem. Há casos em que o aluno suporta a carga para aquele grupamento, mas não agüenta carregá-la com as mãos, são exceções. É preciso acreditar que aquele professor que está ali estudou e se atenta a cada caso em particular, analisa minuciosamente para cuidar que nenhuma atividade seja feita em exagero ou em inconformidade com particularidades biológicas de cada pessoa que a realiza.

Sabendo da função do professor, é preciso estabelecer que às vezes a culpa pode não ser do mesmo (às vezes) por conta de outros acontecimentos dessa sociedade contraditória mostrarem que o homem se volta contra ele mesmo em vários aspectos. O professor as vezes trabalha muito, a sala em determinadas épocas do ano estão sempre cheias e não há possibilidades as vezes de orientar cada aluno como deveria ser, com qualidade. A intenção não é mostrar como mais uma filosofia de botequim os casos da moda atual como é feito pela ideologia dominante, sim apresentar um problema sério que passam os professores de educação física anilheiros.

É preciso buscar políticas que minimizem ao máximo esses acontecimentos, pois é bem provável que se fizesse um estudo com a população de professores de musculação a respeito de queixas de dores na coluna lombar a grande maioria já teve ou estará com ela no momento da pesquisa. Mais um problema sem solução em curto prazo, mas desde já é preciso refletir, tendo em vista que é atual, o fato das academias em grande quantidade existirem nos grandes centros e essa geração de professores que passa pelas mesmas ainda está em processo de envelhecimento. Sabe-se que a partir de determinada idade o homem começa a perder, por questões naturais, massa muscular. O tecido ósseo não é o mesmo, a cicatrização é dificultada e outros problemas surgem. Além desses, adquirimos um moderno problema: a praga da anilha!

Por: Mike Pontes
Texto em construção. Passível de edição.

sábado, 19 de dezembro de 2009

Contradições do avanço tecnológico: a praga do celular

Atualmente é aceitável o fato de o telefone celular ser um item de sobrevivência indispensável nas grandes cidades. Com a globalização, tornou-se constante a necessidade de se fazer uso deste aparelho, uma vez que é de fundamental importância a comunicação rápida por conta dos negócios cotidianos da vida urbana e corrida.


Mas até que ponto é realmente indispensável a comunicação por meio do uso do celular? Especificamente em algumas profissões ele pode salvar vidas. As profissões da área da saúde e das forças auxiliares (polícia, bombeiros, etc.), por exemplo, se acionadas em menor tempo possível evitando possíveis catástrofes de ordem natural, incêndios de proporções maiores e crimes em geral, entre outros.


Além desse uso preventivo que o telefone celular tem, ele nos traz grandes incômodos. Seria comum numa situação ao volante perceber que o condutor à frente, guiando quase em ziguezague, algumas décadas atrás estaria alcoolizado, com problemas de saúde ou coisa parecida. Hoje há mais um vilão: o celular. As pessoas não resistem em saber uma boa possível notícia e atendem a praga do celular enquanto dirigem. Alguns motociclistas (leia-se de passagem motoqueiros) chegam a levantar os capacetes e falam com o bendito no ouvido, alguns motoristas de ônibus dirigem um veículo de uso coletivo carregado de vidas e também fazem o mesmo.


Transitando agora pela educação, quais seriam os malefícios? Sabe-se que além de transmitir uma comunicação em tempo real, os aparelhos atuais filmam, fotografam e têm áudio (mp3). Pois bem, os alunos às vezes optam por necessidade ou questão de status mesmo, impostos pelos grandes meios de comunicação em massa, a se tornarem cada vez mais aderentes dessa comunicação e a fazem a qualquer momento, até que alguma atitude seja tomada, mas qual atitude tomar?


Existe grande pressão por parte deles e até mesmo dos pais, de que a comunicação que se faz pelo aparelho é indispensável, mas o tempo livre (recreio) do aluno na escola é pequeno, ele não o utiliza para fazer ligações, logo, tenta burlar o horário de aula, o espaço para ir ao banheiro, beber água e até mesmo dentro de sala, etc. (é comum as meninas que têm cabelos grandes utilizarem o fone de ouvido para se comunicarem pelo telefone, isso já é sabido). A certeza é de que o professor estudou, competiu com outros professores para estar ali, geralmente fez uma seleção ingrata e severa, pra merecer que sua importante fala seja constantemente interrompida por conversas de celular, sabe-se lá de que teor.


Os celulares tocam em concursos públicos. As organizadoras têm, cada vez mais, fechado o cerco em cima dessa situação, e com razão. Indiscutível seria avançar neste ponto aqui já partindo da análise deste texto.


Os celulares filmam. Será que todas as situações que acontecem em sala de aula são passíveis de reprodução em vídeo sem o constrangimento do professor? A autoridade máxima no espaço de aula é o professor. Com essa tecnologia criada pelo homem o professor deve cada vez mais estar sendo observado, mesmo sem o seu consentimento. O direito de filmar uma aula deve sempre ter a permissão do superior responsável: o professor. Existem casos e casos que um vídeo isolado pode não mostrar realmente o que acontece num espaço pedagógico. Um professor de qualquer disciplina levaria certo tempo para apartar uma briga, por exemplo, em qualquer situação. A filmagem isolada causaria um transtorno tamanho, só o lado ruim seria mostrado. E brigas e agressões entre os alunos não são incomuns na escola. Exemplos seriam massivamente citados aqui, o fato é que o professor tem o direito de saber se está sendo filmado e deve se atentar a isso.


Com as fotografias acontece a mesma coisa. Sem falar das montagens. As gerações atuais convivem com a tecnologia cada vez mais cedo, se comparada as anteriores. A manipulação de imagens é item dominado por parte de muitos jovens contemporâneos. O professor também deve saber se está sendo fotografada sua aula, o que será registrado e quem o faz. Com os dispositivos em constante processo de modernização, o mercado se sustenta assim, os aparelhos fotografam sem flashes e sem qualquer ruído, as vezes sem "abrir" o telefone, há pouco tempo atrás era coisa de 007.


O áudio é tão terrível quanto às outras três funções mais utilizadas do celular. O jovem aluno tem um apego muito grande pela música. Em uma aula chegam a tentar a qualquer custo ouvir as músicas locais que estão na moda. Da música surge outro problema, o bluethooth! É um mecanismo de mover determinados dados (músicas, fotos e outros arquivos) de um celular a outro em pequeno espaço de tempo. Quando não estão ouvindo ou tentando ouvir, estão compartilhando dados no bluethooth. E o professor ministrando a aula. Como todo professor foi aluno, sabe (ou deveria saber) toda malandragem que há por traz disso tudo. É evidente que há casos de extrema importância, mas como seriam resolvidos há duas décadas atrás? Sem o celular é claro. Dava-se um jeito. Hoje as coisas ficaram mais fáceis nesse sentido. Mais fáceis pra uns e mais caóticas para outros.


O áudio ainda se torna desagradável, na medida em que o gosto pela música é algo tão particular quanto à religião, o futebol e outras tantas coisas polêmicas. Certo dia me encontrei numa situação complicada. Trafegando em um ônibus, um sujeito tirou o celular do bolso e "deu play" numa música de gosto bem particular e incomum, pedi que o mesmo a abaixasse, com toda a gentileza e humildade, já que nos grandes centros a violência é assustadora e é fato comum os cidadãos urbanos acharem que se o sujeito está na contramão da lei é porque se calça de alguma forma mortal para tal ilegalidade. Ele não se conteve em ouvir a música de gosto bem pessoal no seu fone de ouvido e calculou que todos mereceriam ouvi-la naquele momento. Grande engano. Arrisquei-me em tal atitude, tendo em vista que na cidade que habito é muito comum a violência a noite, sem discriminar aquela pessoa, que talvez fosse um cidadão trabalhador cansado e voltando para seu lar. Entre um e outro preferi pedir uma só vez e não insistir. Não adiantou muito. A princípio ele abaixou o volume, logo em seguida aumentou novamente. As pessoas ficaram indignadas com o desaforo e todas, exceto eu, ficaram temerosas em contactar o poluidor sonoro. De certa forma me senti um cidadão em exercício dos meus direitos, por outro lado impotente por não saber de quem se tratava e se valeria à pena incomodá-lo novamente, mesmo sabendo que o incomodado era eu (além dos outros calados), pelo terceiro lado me senti ameaçado também, por saber que aquela situação não era favorável para mim, o sujeito era desconhecido e se portava de maneira à vontade demais. Alguma coisa havia de errado, preferi não arriscar mais e deixar o rapaz seguir viagem, com um mau gosto, em minha opinião, enfim.


São situações que o homem criou, mas que a solução não deve ser simples, cabem ainda sucessivas análises. Talvez em algum dado momento soluções surjam. O fato é que são proibidos música no ônibus e celular na escola. Existe lei pra isso. Se for justa ou não há de se estudar, mas enquanto for lei, é aconselhável que seja cumprida. Vale lembrar que o trocador e o motorista ficaram com medo (talvez receio) e não compraram minha briga quando fui abordar o tal causador do estardalhaço dentro do ônibus.


É jogar fora todo o empenho que o professor teve para estar ali naquele espaço escolar. Estudou, apresentou dezenas de seminários, assistiu milhares de horas/aula, apresentou trabalho final, foi selecionado entre tantos, pra em exercício da profissão, a essa altura da vida, encontrar um grande e novo inimigo. O telefone celular. Que continuemos estudando para não perdermos o foco. Solução para este problema não será fácil de encontrar, se eu soubesse estaria compartilhada aqui, tão rápido quanto um bluethooth. E de graça.

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

O professor consensual e o conflitante*

A Educação Física carece de professores engajados e voltados para uma possível transformação social. Era de se esperar que inserida em sua história influências militares, principalmente no Brasil, sobrassem resquícios das mesmas influências no cotidiano do professor em espaço de aula. Em recente pesquisa feita em uma escola que dei aula pedi que os alunos dentro de suas possibilidades me avaliassem como professor, aceitei também sugestões por escrito num pedaço de papel.

Por falta de sorte minha o professor anterior em seu habitáculo mental existia ranços tecnicistas herdados do passado e o método era o conhecido “rola bola” e “faça se quiser”, ou seja, era só futebol e só o sexo masculino que praticava.

O professor de Educação Física pode ser consensual ou tentar mostrar que a realidade pode ser diferente. Em ambos os casos ele faz uma escolha política.

Nas respostas da avaliação dos alunos do sexo masculino em geral, observei que alegavam o fato do outro professor ser mais “legal” porque nas “aulas” se jogava futebol. E as meninas geralmente faziam trabalhos sobre regras de algumas modalidades copiadas da internet.

Com base nas teorias sociológicas do consenso e do conflito é acertado afirmar que esse tipo de Educação (Física) anteriormente citado, apesar de comum ainda hoje, não provocará transformação alguma. Simplesmente a manutenção da ordem vigente reforçará. E infelizmente é mais comum do que se imagina.

Lembrando que nessa sociedade “os modelos da classe dominante são os modelos dominantes”, vale a pena apostar numa educação propedêutica e lutar por esta é fundamental. Existem casos em que pelo olho desarmado do professor liberalista as coisas não têm jeito mais. É bem provável que para este sujeito que não acredita na história que estudou, essa sociedade é a melhor que já existiu e que suas contradições se resolverão por si mesmas. A crise passa. As coisas vão melhorar.

A lógica do lucro desenfreado pelo sistema capitalista perverso é o objetivo em curto prazo para quem está ideologicamente corrompido. Sem saber que como um rolo compressor na contramão, o sistema capitalista passará por cima de quem se fizer necessário, por suas contradições e para sua manutenção, guiado por uma minoria que explora e oprime. Faz-se necessário, a partir de então, uma intervenção humana com o intuito de reorganizar por políticas públicas de educação, saúde, saneamento, habitação, emprego, meio ambiente, etc.

O educador, na batalha das idéias, pode mostrar pros educandos, se a ele for compreensível, possíveis conseqüências catastróficas que o homem pode viver (ou já vive) se as relações humanas entre si e com a natureza não forem repensadas por uma ótica coletiva. Como um trem de carga carregado a natureza lentamente (ou mais rápido do que se possa esperar) mostra a todo instante quem será o vencedor em longo prazo dessa disputa.

Em relação a esse ponto de vista pode-se dizer que não existe uma fórmula mágica para a educação ideal, mas que por mais degradante e privatizada que esteja a situação da mesma no Brasil, atualmente, cabe aos professores atuarem nas brechas que a hegemonia sempre deixa.

Sobre o pensamento hegemônico, é correto afirmar que os meios de comunicação em massa também são fios condutores do pensamento da ideologia dominante, ao qual a sociedade está submetida a todo o momento. Fica estabelecido então mais um combate estafante para o professor. Combate importante a partir do momento em que emissoras de televisão têm como requisito para adquirir o direito de transmissão de imagens a veiculação de informações necessárias para a sociedade. A necessidade da população é deturpada, enfim.

Na medida em que outros sistemas deixaram de existir, o capitalismo também pode acabar. O sistema que o sobreporá, dependerá da organização dos homens que habitarem essa sociedade nesse tempo. Segundo Marx a espécie humana é a única que pode escolher o mundo em que vai viver. E o tipo de gênero que vai formar.

No combate à falta de idéias do niilismo pedagógico e na luta contra a alienação imposta de forma perversa pela ideologia dominante posso considerar que neste curso de Pedagogia Crítica da Educação Física consta uma situação de catarse para todos que resistiram e não desistiram até o momento.

Por: Mike Pontes

*Esse trabalho teve como objetivo pré-requisito parcial de grau para a disciplina Sociologia da Educação Física, ministrada pelo professor doutor Vítor Marinho de Oliveira no curso de pós-graduação latu sensu em Pedagogia Crítica da Educação Física, Escola de Educação Física e Desportos da Universidade Federal do Rio de Janeiro.